Cansei
cansei da solenidade, da formalidade
da metáfora.
Cansei da mão guardada por dentro
e daquele gesto medido, comedido.
Mudei de opinião. Acerca de quase
tudo:
pessoas, obra de arte, vida, profissão.
Não quer dizer que fiquei melhor,
nem pior.
Fiquei diferente.
Conservei as aparências, o mesmo
trabalho
cotidiano, a mesma casa, os mesmos
horários,
a mesma cidade.
E a vida continuou
subterrânea
vital
líquida corrente
ainda que seu percurso de carne e
argamassa
congelasse a superfície.
Ainda não sei se sou radical.
É a única questão a resolver.
Quanto ao resto, amigos,
mudei
como se muda a vista breve de uma manhã
ou a arquitetura de um vôo.
Neide Archanjo