sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Parceria
Ficamos assim:
você joga as queixas do telhado,
eu ponho as manias de lado;
você lava a escadaria,
eu rego o jardim.
Podemos varrer juntos
as nódoas secas aderentes ao passado.
Se você se habilita, eu me disponho,
num desafio à desdita.
Você acende a luz,
eu desempeno o sonho;
enquanto você ensaia o passo,
eu troco a fita.
Na mesa torta, a toalha colorida.
O resto é fácil:
basta mandar flores ao futuro,
derrubar o muro e acreditar na vida.
Flora Figueiredo
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domingo, 28 de novembro de 2010
Rotineira
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Flores do campo
sábado, 2 de outubro de 2010
Chuva
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Árvore
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Matinas
Alegra-me este setembro
com rosto de agosto:
céu plúmbeo ventos arados
algumas chuvas crescendo
figos úmidos e brandos e afáveis
mais estes insetos em bonança
gordos gatos
Deus sorri
e deslocam-se ângulos
presenças
estados de espíritos.
Renascem lembranças.
No corpo
o pássaro da pele
emplumado canta.
Neide Archanjo
sábado, 21 de agosto de 2010
Simplesmente Ser
Quisera ser simples, natural e pura,
como a água limpa da fonte,
que ainda não se poluiu.
Quisera ser meiga e delicada,
como as pétalas de uma rosa,
cujos espinhos não a machucam.
Quisera ser como o vento que voa livre,
desenhando o seu espaço,
fazendo seu próprio caminho.
Quisera ter mãos de fada,
para desenhar o meu destino.
Quisera amar-te, ser tua rainha
e, nos teus beijos de fogo,
deixar aquecer o coração.
Quisera descobrir o sentido da vida.
E ao longo do caminho
seguir livre... amando simplesmente.
Estela (1991)
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domingo, 1 de agosto de 2010
Modinha
Quando eu fico aguda de saudade eu viro só ouvido.
Encosto ele no ar, na terra, no canto das paredes,
pra escutar nefando.
Um homem que já morreu cantava “a flor mimosa
desbotar não pode, nem mesmo o tempo
de um poder nefando” – mais dolorido canta
quem não é cantor.
A alma dele zoando de tão grave, tocável
como o ar de sua garganta vibrando.
No juízo final, se Deus permitisse,
eu acordava um morto com este canto,
mas que o anjo com sua trombeta.
Adélia Prado
terça-feira, 13 de julho de 2010
Cansei
Cansei
cansei da solenidade, da formalidade
da metáfora.
Cansei da mão guardada por dentro
e daquele gesto medido, comedido.
Mudei de opinião. Acerca de quase
tudo:
pessoas, obra de arte, vida, profissão.
Não quer dizer que fiquei melhor,
nem pior.
Fiquei diferente.
Conservei as aparências, o mesmo
trabalho
cotidiano, a mesma casa, os mesmos
horários,
a mesma cidade.
E a vida continuou
subterrânea
vital
líquida corrente
ainda que seu percurso de carne e
argamassa
congelasse a superfície.
Ainda não sei se sou radical.
É a única questão a resolver.
Quanto ao resto, amigos,
mudei
como se muda a vista breve de uma manhã
ou a arquitetura de um vôo.
Neide Archanjo
terça-feira, 6 de julho de 2010
Jardim das Borboletas
O mais novo blog da Jacque, onde ela mostra mais uma vez, o seu bom gosto e sensibilidade e, que gentilmente me convidou para ser madrinha.
Um blog onde as imagens falam por si mesmas, com muita delicadeza e suavidade.
Você está convidado(a) a visitar o "Jardim das Borboletas".
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Brisa
sexta-feira, 25 de junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Aprendamos o rito
Põe na mesa a toalha adamascada,
Traz as rosas mais frescas do jardim,
Deita o vinho no copo, corta o pão,
Com a faca de prata e de marfim.
Alguém se veio sentar à tua mesa,
Alguém a quem não vês, mas que pressentes.
Cruza as mãos no regaço, não perguntes:
Nas perguntas que fazes é que mentes.
Prova depois o vinho, come o pão,
Rasga a palma da mão no caule agudo,
Leva as rosas à fronte, cobre os olhos,
Cumpriste o ritual e sabes tudo.
In Os Poemas Possíveis, Editorial Caminho, 3.ª ed., p. 81
José Saramago
Rosas: James Guilliam
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terça-feira, 1 de junho de 2010
Quando cai a chuva
Vou encher a mala
Já enchi a mala e vou partir para o horizonte
E encontrar-me contigo onde o vento me deixar
Depois de acabar o tédio, o pesadelo e a frustração
E de não mais me vergar mais que à vida
De não mais me importar com as tentações
Com a indiferença, as incertezas, as preocupações
Nem sequer com a rima e a elegância destes versos
Alberto Quadros
http://sonhoscomsorte.blogspot.com
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domingo, 30 de maio de 2010
Rua do Capelão
Letra e música: Frederico de Freitas / Julio Dantas
Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.
Há um degrau no meu leito,
Que é feito pra ti somente
Amor, mas sobe com jeito
Se o meu coração te sente
Fica-me aos saltos no peito.
Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti.
Apesar deste ser um blog de poesia, achei este fado bastante adequado.
Me inspirei no filme FADOS de Carlos Saura.
O filme é uma apaixonante viagem sonora através de diversas variações do fado, o gênero musical tradicional de Portugal, iniciado no século XIX por uma enorme leva de imigrantes que chegava ao país.
As canções são interpretadas por artistas consagrados como Caetano Veloso, Chico Buarque, Toni Garrido, Mariza, Camané, Lila Downs, Carlos do Carmo, Fernanda Maria, entre outros.
Há também uma linda homenagem àquela que foi a maior cantora de fado de todos os tempos: Amália Rodrigues.
E à Severa - Maria Severa Onofriana (Lisboa, 1820 — Lisboa, 30 de Novembro de 1846) foi uma cantora portuguesa de fado, considerada a mítica fundadora do fado, caracterizada pelos seus fados lisboetas.
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domingo, 9 de maio de 2010
E deixo-te as rosas...
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Foto Poesia
Gostaria de compartilhar com vocês.
Minha foto foi escolhida para ser a capa do Caderno Literário da Editora Pragmatha, de Porto Alegre, do qual meu marido, o poeta Nilton Maia participa com algumas de suas poesias. O caderno é publicado mensalmente com temas variados.
O tema deste mês foi CÉU.
Destaque do Editorial, onde aparece o crédito da fotografia.
A foto foi tirada no Rio de Janeiro, na Praia do Flamengo, numa morna tarde de outono
(Abril de 2010).
Se alguém estiver interessado em receber o Caderno Literário é só deixar um comentário com o e-mail, que eu o envio.
Estela
sábado, 1 de maio de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Nuvem
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Beira rio
Arbóreo
domingo, 11 de abril de 2010
Bairro
O rapaz acabou de almoçar
e palita os dentes na coberta.
O passarinho recisca e joga no cabelo do moço
excremento e casca de alpiste.
Eu acho feio palitar os dentes,
o rapaz só tem escola primária
e fala errado que arranha.
Mas tem um quadril de homem tão sedutor
que eu fico amando ele perdidamente.
Rapaz desses
gosta muito de comer ligeiro:
bife com arroz, rodela de tomate
e ir no cinema
com aquela cara de invencível fraqueza
para os pecados capitais.
Me põe tão íntima, simples,
tão à flor da pele o amor,
o samba-canção,
o fato de que vamos morrer
e como é bom a geladeira,
o crucifixo que lhe deu,
o cordão de ouro sobre o frágil peito
que.
Ele esgravata os dentes com o palito,
esgravata é meu coração de cadela.
Adélia Prado
Ilustração: Tânia Leal
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sexta-feira, 19 de março de 2010
Saltimbancos
1
Nosso caminho não é mais largo que o teu, frequentemente caímos de muito alto, também nos arrebentamos, mas a falta de atenção não nos obriga retornar à corda. A ti, qualquer errinho faria morrer. Divertimos com nossos mil erros a morte, espectadora que ocupa a melhor cadeira no circo de nossas desgraças.
Rainer Maria Rilke
Foto: Galeria de octarina8 - www.flickr.com
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quarta-feira, 17 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
Os Perfumes
Alma das flores - quando as flores morrem,
os perfumes emigram para as belas,
trocam lábios de virgens - por boninas,
trocam lírios - por seios de donzelas!
E ali - silfos travessos, traiçoeiros,
voam cantando em lânguido compasso,
ocultos nesses cálices macios
das covinhas de um rosto ou dum regaço.
Castro Alves
- Hoje, dia 14 de março comemora-se, aqui no Brasil, o Dia Nacional da Poesia. Data escolhida por ser o dia de nascimento de Castro Alves.
Para saber mais deste nosso grande poeta clique AQUI.
Ilustração: Alfred Guillou - Bouquê Matinal
segunda-feira, 8 de março de 2010
Mulher é sempre mulher
Se a jovem não nos quer, tomaremos a mãe, e daremos alegrias a todas.
Que os seios sejam pequenos como limões, ou enormes como abóboras, ou enrugados como pele de elefante, ou moles como arroz cozido, mulher é sempre mulher.
E faremos o amor com todas.
As mil e uma noites ( do livro Hinos ao Prazer – seleção e tradução de Mansour Challita)
Ilustração: Giulio Rosati - The harem dance
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
BELIEVE
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
A goiabeira
Se eu pudesse voltar no tempo,
Voltaria àquele
Em que eu subia nos teus galhos
E ficava lá no alto te abraçando,
Tirando as cascas do teu tronco.
Voltaria no tempo em que
Entregava-me ao cheiro e ao sabor das tuas frutas,
E ficava encantada pela delicadeza das tuas flores.
Tempo em que meus sonhos voavam livres
Como os passarinhos que te visitavam.
Estela (março de 2005)
Foto de Estela - Goiabeira do quintal da casa da minha mãe.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
FIM DE INVERNO
Na verde encosta coberta de asas
já repica um azul de violetas.
Somente ao longo da floresta escura
demora a neve em línguas dentilhadas,
mas gota a gota vai-se desfazendo
atraída pela sede da terra.
No pálido céu alto pastam alvos
rebanhos de nuvens. Um pintassilgo
em amoroso canto se desfaz:
- Homens, amai-vos e cantai em paz!
Herman Hesse
Foto: Dario Lima - Flickr
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Rio em flor de janeiro
A gente passa, a gente olha, a gente pára
e se extasia.
Que aconteceu com esta cidade
da noite para o dia?
O Rio de Janeiro virou flor
nas praças, nos jardins dos edifícios,
no Parque do Flamengo nem se fala:
é flor é flor é flor,
uma soberba flor por sobre todas,
e a ela rendo meu tributo apaixonado.
Pergunto o nome, ninguém sabe. Quem responde
é Baby Vignoli, é Léa Távora.
(Homem nenhum sabe nomes vegetais,
porém mulher se liga à natureza
em raízes, semente, fruto e ninho.)
Iúca! Iúca, meu amor deste verão
que melhor se chamara primavera.
Yucca gloriosa, mexicana
dádiva aos canteiros cariocas.
Em toda parte a vejo. Em Botafogo,
Tijuca, Centro, Ipanema, Paquetá,
a ostentar panículas de pérola,
eretos lampadários, urnas santas,
de majestade simples. Tão rainha,
deixa-se florir no alto, coroando
folhas pontiagudas e pungentes.
A gente olha, a gente estaca
e logo uma porção de nomes populares
brota da ignorância de nós todos.
Essa gorda baiana me sorri:
– Círio de Nossa Senhora... (ou de Iemanjá?)
– Vela de pureza, outra acrescenta.
– Lanceta é que se chama. – Não, baioneta.
– Baioneta espanhola, não sabia?
E a flor, que era anônima em sua glória,
toda se entreflora de etiquetas.
Deixemo-la reinar. Sua presença
é mel e pão de sonho para os olhos.
Não esqueçamos, gente, os flamboyants
que em toda sua pompa se engalanam
aqui, ali, no Rio flóreo.
Nem a dourada acácia,
nem a mimosa nívea ou rósea espirradeira,
esse adágio lilás do manacá,
esse luxo do ipê que nem-te-conto,
mais a vermelha aparição
dos brincos-de-princesa nos jardins
onde a banida cor volta a imperar.
Isto é janeiro e é Rio de Janeiro
janeiramente flor por todo lado.
Você já viu? Você já reparou?
Andou mais devagar para curtir
essa inefável fonte de prazer:
a forma organizada
rigorosa
esculpintura da natureza em festa, puro agrado
da Terra para os homens e mulheres
que faz do mundo obra de arte
total universal, para quem sabe
(e é tão simples)
ver?
Carlos Drummond de Andrade
Foto: galeria de sftrajan do Flick - Yucca gloriosa
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