quarta-feira, 29 de julho de 2009
AUTO-RETRATO
Alguém diz que sou bondosa:
está tão enganado que dá pena.
Alguém diz que sou severa,
e acho graça.
Não sou áspera nem amena:
estou na vida como o jardineiro
se entrega em cada rosa:
corte, sangue, dor e aroma,
para que a beleza fique na memória
quando a flor passa.
(Amar é lidar com os espinhos
de quem ama por inteiro:
com força, não com fraqueza.)
Lya Luft
domingo, 26 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O PROVEDOR
Andar à toa é coisa de ave.
Meu avô andava à toa.
Não prestava pra quase nunca.
Mas sabia o nome dos ventos
E todos os assobios para chamar passarinhos.
Certas pombas tomavam ele por telhado e passavam
as tardes freqüentando o seu ombro.
Falava coisas pouco sisudas que fora escolhido para
ser uma árvore.
Lírios o meditavam.
Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal.
Penso que ele era provedor de poesia como as aves
e os lírios do campo.
Manoel de Barros – do livro Ensaios Fotográficos
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
A canção da vida
A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)
Mario Quintana (Esconderijos do Tempo)
Para ler e saber mais de Quintana, clique no link na coluna lateral ou clique aqui.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
SOU MULHER QUE ENCANTA
Baú
Permutas poéticas
Troca-se um cheiro de fumaça
por um odor de terra molhada.
Uma nuvem de pernilongos por
uma nuvem branca, de vapores
condensados lembrando sorvete de limão.
Um gramado grande, ressequido
por um canteiro de Amarílis.
Um caixote de folhas secas por
um ramo de alecrim.
Meia dúzia de envelopes de sementes
de flores por um buquê de violetas.
Um céu sem nuvens por outro, carregado
de nuvens densas.
Uma estiagem por um temporal.
Uma chuva de fagulhas de canavial
por uma chuva criadeira.
Um cheiro de garapão por
um odor de murta.
Alguns sonhos desfeitos
por uma esperança.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
ESPUMA DO MAR
sábado, 4 de julho de 2009
Oferenda Lírica
Quando era nova a criação, e as estrelas brilhavam com seu primeiro esplendor, os deuses reuniram-se no céu e cantaram: “Oh, imagem da perfeição, Oh alegria pura!”
– Mas de repente um deles exclamou: “Parece que se rompeu a corrente de luz em alguma parte!” – “Parece que se perdeu uma estrela!”
Partiu-se uma corda de ouro de alguma das harpas dos deuses. Silenciou o seu canto e lamentaram: “A estrela perdida era a mais bela, era a glória de todos os céus!”
O Mundo perdeu a sua única jóia.
Entretanto, no profundo silêncio da noite, as estrelas sorriem e murmuram: “Inútil a busca. A perfeição inteira está em toda parte!”
RABINDRANATH TAGORE – GITANJALI
sexta-feira, 3 de julho de 2009
AS FLORES E OS HOMENS
As flores atingem a sua “floridade” – é um milagre.
Os homens não atingem a sua humanidade – é uma pena.
Tudo que espero de vocês, homens e mulheres,
Tudo o que de vocês espero
É que alcancem a sua própria beleza, tal como as flores.
Ah! Parem de dizer que eu os quero selvagens.
Digam-me, a genciana é selvagem no tope de sua rústica haste?
Oh! Onde, em vocês, a resposta a esse azul?
D. H Lawrence
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