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Uma pessoa deveria, pelo menos todos os dias, ouvir uma pequena canção, ler um bom poema, ver uma bela imagem e, se possível, dizer umas poucas palavras sensatas. (Goethe)

sábado, 29 de agosto de 2009

A alma do sonho


... a alma do sonho fez-se ouvido
Tão vertiginoso e profundo
Que capta o recado perdido
Dos ocultos donos do mundo...

Cecília Meireles

A Poesia


Prima irmã do vento
A poesia se infiltra
Em tudo, invisível.

Lena Jesus Ponte

Gorjeios



Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se
Inclui a sedução,
É quando a pássara está enamorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.

Manoel de Barros

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Cisne e a Bailarina



De aspecto gracioso,
Com penas brancas
Na água dança
Como a bailarina
De passos mágicos
A linda dançarina
Na água se lança..

Renata Cordeiro (para Estela)

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domingo, 16 de agosto de 2009

AVIS RARA


MAGRITTE - La Promesse


AVIS RARA

Imersos
Nos desvãos da incerteza,
Deixamos que o amor,
Sutil fragrância,
Impregne-nos
Os secretos recônditos,
Para, um dia,
Como sói a nós,
Humanos,
Perdê-lo,
Perdendo-nos
Em seu rastro.

O amor bem pode ser
Auto-de-Fé,
Suplício atroz,
Blasfêmia,
Mesmo infâmia.
Mas, também,
O roçar da seda pura,
Graça plena,
Vento forte,
Frêmito profano.

Louvado seja, pois,
A todo instante,
O bem supremo
De tê-lo plenamente,
Guiando nosso rumo
Entre as falésias,
Não permitindo
Que nos destruam as tempestades,
Freqüentes em tempos tão insanos.

Nilton Maia

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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Com aquela sua maneira


Com aquela sua maneira de sol entrar em casa
E com o seu olhar furado de nascentes
O menino podia ver até a cor das vogais –
Como o poeta Rimbaud viu.
Contou que viu a tarde latejar de andorinhas.
E viu a garça pousada na solidão de uma pedra.
E viu outro lagarto que lambia o lado azul do
silêncio.
Depois o menino achou na beira do rio uma pedra
canora.
Ele gostava de atrelar palavras de rebanhos
diferentes
Só pra causar distúrbios no idioma.
Pedra canora causa!
E um passarinho que sonhava de ser ele também
causava.
Mas ele mesmo, o menino
Se ignorava como as pedras se ignoram.

Manoel de Barros